sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Corrupção e violência

 

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Em 2012 o Projeto História & Cinema iniciou o seu mais ambicioso trabalho até o momento: debater ao longo de dois anos o tema Mídia, Sociedade e Violência Urbana. Como o assunto é amplo e tínhamos também um lastro de tempo razoável para efetivá-lo, consideramos subdividi-lo em cinco eixos de discussão. Não quero ser repetitivo, pois quem vem acompanhando o blog sabe que em outras postagens eu já apresentei cada um deles, e claro, ao final de cada eixo, posto um resumo dos principais eventos. Bem, chegamos ao final de mais uma etapa. E o objetivo dessa postagem, evidentemente, é apresentar um pouco do que conseguimos desenvolver com os alunos sobre a relação entre a corrupção social, ou seja, a cultura de corrupção que permeia a sociedade brasileira e o aumento da violência.

Como aconteceu com os outros subtemas, iniciamos os trabalhos apresentando aos alunos a proposta do eixo, o que queríamos explorar, o filme que iríamos exibir e a participação deles nesse processo. Sobre a exibição do filme, propomos uma metodologia diferente nesta oportunidade. Mas, voltando ao início dos trabalhos, logo após a apresentação do tema, a professora Elita Cavalcante já deu inicio a sua exploração. Com base nos textos O Estado do mal-estar: corrupção e violência, de autoria de Flávia Schilling e Cafusa: carnaval, futebol, corrupção e violência, escrito por Luiz Flávio Gomes, a professora explorou um ponto essencial de nossa proposta: como cada um de nós contribui para o ambiente corrupto em que vivemos. A ideia era mostrar que os atos de corrupção, constroem a cultura de corrupção, e que esse ambiente em que a prática de atos corruptos é tão comum, cria-se uma rede de dependência entre os seus praticantes, que é claro, quando chega ao aparelhamento do Estado responsável pelo controle e repressão do crime, a sociedade passa a não ter mais a quem recorrer, o que se constitui numa chamada crise sistêmica, um caos social por assim dizer, em que, como numa bola de neve, caso não encontre um obstáculo pelo caminho, poderá destruir tudo. Quero ressaltar também o uso de um material que foi importante para o nosso projeto: um caderno pedagógico elaborado pela Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro chamado Cinema para Todos, edição Tropa de Elite 2. Esse material nos possibilitou uma nova gama de questões, inclusive interdisciplinares, que não havíamos pensado. Fica aqui o crédito aos elaboradores do material.

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É importante refletirmos sobre a corrupção na política partidária mais especificamente, seus tentáculos espalhados pelos órgãos de segurança pública, entre outras coisas. Fizemos isso, relacionando diretamente esses problemas com o aumento da violência, debatendo sobre como os desvios de verbas públicas contribuem para o aumento do desequilíbrio social e a impunidade que estimula o desencadear de novos atos contrários aos interesses públicos.

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Procuramos sempre, como também já mencionei aqui no blog, relacionar os eixos trabalhados com o que estamos discutindo no momento. Sendo assim, lembramos que a pobreza em si não gera violência (opinião mais comum entre os alunos), porém, a desigualdade social somada a falta de perspectiva social pode sim, contribuir para um estado de guerra hobbesiano. Aliado a essa questão, trabalhamos no segundo eixo o mal funcionamento do sistema prisional, que sabemos ser um mecanismo que, no Brasil, mas estimula a violência do que a coíbe. Vendo bem as duas situações, enxergamos a corrupção como mola-mestra da engrenagem, já que ela está na essência dos problemas que visualizamos nas duas primeiras discussões.

Não obstante, o nosso foco era outro: de que maneira nós todos contribuímos para que esse sistema corrupto funcione? Somos corruptos quando fazemos o quê? O nosso voto corrompido não gera um sistema político corrupto? Quem compra um cigarro de maconha não está fazendo funcionar o tráfico de drogas? Quando procuramos um político para nos livrar de uma multa de trânsito não estamos alimentando o seu poder sobre nós e sobre o sistema? Ou seja, “pequenos” atos de corrupção somados, não estão, conjuntamente, criando um país corrupto tanto ou mais que os atos daqueles corruptos de colarinho branco a quem geralmente nos dirigimos nas manifestações?

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No que se refere a exibição do filme, usamos dessa vez uma nova metodologia. Vou tentar resumir a estratégia adotada. Como era de conhecimento daqueles que acompanham o blog desde o começo do ano passado, escolhemos o filme Tropa de Elite 2 para ilustrar nossas discussões e dá mote para novos questionamentos. Claro, sempre procuramos fazer uma análise da obra em si, discutindo como esteticamente o conteúdo foi explorado pela película, e em que ela nos permite um uso reflexivo das problemáticas que apresenta. Bem, vamos a estratégia.

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Resolvemos dessa vez não exibir o filme por inteiro, pois a maioria dos alunos haviam assistido, e por coincidência, um canal aberto de TV o havia exibido duas semanas antes, o que tornou a obra muito conhecida dos discentes. Sendo assim, reuni-me com o professor Adriano, e assistimos novamente ao filme no nosso planejamento semanal, e fizemos uma seleção das cenas que iriam pontuar a discussão. Isso nos permitiu também, amarrar melhor o direcionamento do debate, o que no final, mostrou-se uma alternativa produtiva e instigante. Temíamos pela reação das turmas que estavam acostumadas a ver os filmes inteiros, mas felizmente eles entenderam a proposta e participaram efetivamente do debate. Àqueles que não tinham assistido ao filme inteiro, disponibilizamos o DVD com a obra”.

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A etapa seguinte foi a produção textual coordenada pela professora Gorete, que após correção das produções fez uma seleção das ideias mais interessantes para a postagem no blog. Aqui estão os três selecionados:

A corrupção é um tipo de comportamento que está presente em todos os setores da sociedade. Mas costuma ser mais frequente no meio político, quando pessoas eleitas para algum cargo público, prefeito, vereador ou deputado desviam verbas para outros fins.

Por causa da má administração do poder público a violência cresce cada vez mais no cotidiano das cidades brasileiras. A mídia influencia a violência através de reportagens e de jornais que só se preocupam com a audiência.

A corrupção dos policiais é um problema sério pois esses profissionais são pagos para manterem a paz e a ordem nas cidades mas infelizmente existem grupos de policiais que em vez de combater os traficantes de drogas, recebem propina para que as milícias continuem em nossa sociedade.

Uma forma de acabar com toda essa violência é se desde pequenas as crianças do nosso Brasil estudassem em escola que tivessem atividades educativas. Para quando crescerem chegarem a ocupar algum cargo público ou outro qualquer e ter consciência de que não é certo fazer parte de corrupção.

Terezinha Pedrosa Ferreira

Corrupção e violência urbana andam praticamente juntas, pois quando os políticos se vendem em troca de favores e dinheiro e não cumprem com seus deveres e esquecem para que eles foram eleitas, estão se corrompendo.

Assim também são alguns policiais que aceitam dinheiro de traficantes para deixá-los livres e assim dominarem o tráfico e até mesmo a vida das pessoas.

A mídia divulga esses fatos exageradamente e de forma a contribuir para que o aumento dessa corrupção aconteça pois ela só mostra algumas partes, nunca relatam o que realmente acontece só mostra que convêm.

A violência urbana está cada dia mais constante, não nos assustamos mais com a violência de tanto passar diariamente nos jornais e televisão.

Devemos evitar a corrupção em nossas famílias educando nossos filhos para uma vida honesta ensinando a eles o que é certo e o que é errado.

É nosso dever educar os filhos sempre com muito amor e respeito.

Ana Liduina Rodrigues Alves

A corrupção é um dos principais fatores mas não é o único gerador da violência e a mídia ajuda mais ainda propagar isso, pois fica às vezes defendendo o errado, no lugar de denunciar ou fazendo sensacionalismo do que está acontecendo de fato.

Policiais são corrompidos no lugar de dar exemplos recebem propina para deixar os traficantes livres por isso a violência só tem aumentado, quem deve acabar está é ajudando os políticos não todos mas a maioria sabe e deixam acontecer.

Uma das coisas que poderia ser feita para amenizar a violência é denunciar quando alguém está errado, os políticos deixarem de se beneficiar com o narcotráfico, impor leis mais severas para quem for pego recebendo propina, policiais mais capacitados, a mídia ajudando a acabar com isso e todos fazendo a sua parte.

Edjane da Silva Bezerra

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Agora em outubro estaremos desenvolvendo os trabalhos do quarto eixo: violência e tráfico de drogas, onde vamos discutir duas questões importantes: a relação entre o aumento da violência e a existência do chamado crime organizado e se a solução para esse problema seria a descriminalização do uso de entorpecentes. Os filmes exibidos serão Notícias de uma guerra particular e Quebrando o Tabu.

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Agradeço a contribuição de todos! Até a próxima. Veja aqui o trailer o filme Notícias de uma guerra particular:

 

 

Aguardo os comentários.