terça-feira, 30 de abril de 2013

Planejando com cinema – Tropicália

 

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Colegas leitores do blog CineHistória, obrigado mais uma vez pela visita. Como foi comentado em uma postagem anterior, demos início no segundo semestre de 2012 a mais uma atividade pedagógica envolvendo cinema e ensino de História. Dessa vez o direcionamento voltou-se para a formação docente, e chamamos nossos encontros de Planejando com cinema. Nesses colóquios mensais discutimos como utilizar filmes nas aulas de História, mas não é só isso, a película também serve como ponto de partida para um aprofundamento dos professores no tema abordado por ela, já que esses momentos coincidem com o horário de estudo coletivo da área de ciências humanos do CEJA Joaquim Gomes Basílio, no munícipio de Brejo Santo, interior do Ceará.

No ano passado os temas escolhidos para debate foram O processo de descolonização dos países africanos no pós II Guerra, onde exibimos e discutimos o filme A Batalha de Argel; A criação do Estado de Israel, cujo filme escolhido foi o documentário O nascimento de Israel, e finalizamos 2012 fazendo uma discussão sobre a atual guerra no Iraque a partir do documentário Por trás do 11 de Setembro. Em 2013 discutiremos também três temas, no entanto, dedicaremos mais tempo para cada um deles: movimento tropicalista e sindicalismo operário no ABC paulista no primeiro semestre; e no segundo semestre, mergulharemos de cabeça no estudo do golpe militar de 64, já que no próximo ano completaremos cinco décadas do evento e certamente será bem explorado na mídia, o que estimulará um debate com os alunos. Esse tema será o foco do projeto História e Cinema no próximo ano letivo.

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Bem, estamos chegando ao final das atividades do primeiro tema de 2013: Tropicalismo. Assim, farei um resumo das atividades que desenvolvemos em torno desse assunto, já agradecendo de antemão o interesse dos colegas e da gestão do CEJA Joaquim Gomes Basílio, por acima de tudo, entender a importância de se dar espaço para esse tipo de temática, assim como o uso das novas mídias na educação, algo muito discutido, não obstante, pouco efetivado.

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21/02 => Planejamento das atividades. Nesse momento, estabelecemos nossos objetivos com o tema, o que sabíamos, o que queríamos aprender, escolhemos o filme a ser exibido no próximo encontro e nos comprometemos a fazer as leitura dos textos selecionados para o estudo (em casa ou no horário de estudo individual na escola). O que nos chamou a atenção nesse primeiro momento foi que esse tema é importante, já que o espaço destinado ao assunto no livro didático é mínimo, o que muitas vezes nos impossibilita de trabalharmos mais a fundo a tropicália com os alunos, além do fato de isso muitas vezes (implicitamente) sugerir que se trata de algo de menor relevância, o que não é o caso. Às vezes, esse assunto é relegado ao final do capítulo nos livros didáticos, a título de apêndice, no chamado material complementar. E como sabemos, na maioria das vezes a carga-horária não nos permite aproveitar adequadamente esse material. Então, no final, ficou a ideia de escolhermos nos próximos anos temas que justamente nos permitam a produção de algo que acrescente conhecimento a nós professores em assuntos que não nos achamos suficientemente habilitados.

14/03 => Exibição do filme Tropicália, do diretor Marcelo Machado. Bem, a recepção estética da obra foi a melhor possível. Todos nós expressamos nossa opinião positivamente sobre o filme e achamos que ele atendeu bem as nossas expectativas. Ficou bem claro que um dos elementos fundamentais na tropicália é que tratou-se de um movimento artístico que estabeleceu um diálogo com outras artes e mídias. Inclusive este talvez tenha sido o último movimento cultural brasileiro que possa ser visto por essa óptica. Ficou marcado para o próximo encontro o debate dos textos. Encerramos nossas opiniões e nos comprometemos a ouvir os principais discos do movimento: Tropicália ou Panis et Circenses, os primeiros de Tom Zé, Caetano Veloso, Gilberto Gil e dos Mutantes.

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04/04 => Esse encontro foi dedicado ao debate dos textos de apoio que tínhamos selecionado a priori. São eles: A tropicália: cultura e política nos anos 60, de Cláudio N P Coelho, que aborda o aspecto político do movimento no que se refere ao embate entre o movimento de esquerda radical que lutava contra a ditadura e “exigia” uma postura mais engajada dos tropicalistas e o ideário de revolução “pela arte”, defendida pelos artífices do movimento, a saber, Caetano Veloso e Gilberto Gil. O autor, no entanto, aproxima as ideologias e ressalta que o diferencial estava na abordagem da crítica e nos métodos de ação. Outro texto que discutimos foi a publicação no site oficial do tropicalismo (www.tropicalia.com.br) de um resumo histórico dos principais eventos e personagens da tropicália. Além disso, lemos alguns textos do material didático da escola sobre o assunto. Mais um momento proveitoso.

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25/04 => Nesse último encontro sobre o Tropicalismo, procuramos focar naquilo que chamamos de resultado prático de nossas atividades: a produção de um plano de ação para desenvolvermos com os alunos. É fundamental lembrarmos que existe uma obrigatoriedade de se trabalhar música na escola, trata-se da lei 11.769, de agosto de 2008, que modificando o texto inicial do projeto de lei que criava uma disciplina específica, estabeleceu que a música tem que ser apresentada como componente obrigatório nas aulas de Arte e Educação. Assim, esse tema nos permite também explorar essa questão, num trabalho interdisciplinar. Aliás, esse foi um ponto que destacamos no nosso debate de elaboração do plano de ação. Farei aqui um resumo do que propomos.

No planejamento que fizemos (e que executaremos já no segundo semestre deste ano), dividiremos a sala de aula em equipes e destinaremos a cada equipe um aspecto a ser abordado do tema Tropicália. No entanto, antes disso montaremos uma equipe de trabalho com o corpo docente. Em que cada professor envolvido abordará em suas aulas (Artes, Português e História) a contextualização necessária para ambientarmos o aluno no tema, como A semana de arte moderna de 22 (professor de Artes), e Golpe Militar de 64 e contexto geral da didatura (professor de História). Após esse momento, cada equipe pesquisará a demanda oferecida, como os principais discos do movimento; a tropicália como evento cultural e político; a questão estética e a influência do tropicalismo na música brasileira contemporânea, etc. Após essa etapa de pesquisa e debates, montaremos seminários temáticos, onde cada equipe, de maneira dinâmica (variação de métodos de apresentação) explanarão o resultado do seu trabalho, suas descobertas. A ideia é que possamos apresentar o máximo possível de conteúdo cultural nesses eventos, permitindo aos estudantes um contado maior com a música, a capa dos discos, os filmes, etc. E por falar nisso, antes da apresentação das equipes, organizaremos uma sessão de exibição do documentário Tropicália, que nos deu mote para o planejamento das atividades.

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Bem, numa postagem futura, e para não se alongar demais, farei um apanhado dessas atividades, explicando em mais detalhes como organizamos os eventos e algumas opiniões dos nossos alunos sobre a participação no projeto. Agradeço a leitura e espero os comentários. Até a próxima!