sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Cinema, História e Direitos Humanos


Caros colegas educadores, cinéfilos e demais interessados no conteúdo deste blog, espero que 2017 tenha sido para todos um ano de renovação de esperanças. Apesar de tudo, e até mesmo por causa de tudo, acreditemos no potencial transformador da educação e de nossa importância, enquanto profissionais envolvidos na formação das futuras gerações. Continuemos a acreditar que usando as ferramentas do mundo moderno, potencializamos as chances de um saber construtivo e participativo, ou seja, um efetivo aprendizado.
Final de ano, hora do texto que resume as atividades do CineHistória durante o período letivo. E como vinha explicando as pessoas que me perguntavam pelas reportagens publicadas aqui sobre o andamento do Projeto História e Cinema, optei em 2017 por não reportar o processo de desenvolvimento das atividades paulatinamente, como, aliás, também o fiz em relação aos trabalhos de 2016. Farei, portanto, um apanhado das atividades desenvolvidas, que foram muitas, certamente. Inclusive, neste ano avançamos mais um degrau, já que finalmente realizei um objetivo há certo tempo já planejado: unir o Projeto História e Cinema com o Projeto Leitura, que como o nome já sugere, visa incentivar o hábito de ler entre nossos jovens alunos.
Bem, acho que preciso falar um pouco sobre o Projeto Leitura, já que os colegas que acompanham o blog já estão familiarizados com as características do Projeto História e Cinema (e os que não estão podem visualizar nas postagens anteriores deste blog uma série de reportagens que permitem uma compreensão geral dessas atividades desenvolvidas desde 2009). Vamos lá, então.
Em 2007, há uma década, portanto, deparei-me com uma remessa de livros que chegava a Escola Afonso Tavares de Luna, onde trabalho até hoje, e empolgado com a qualidade dos títulos que iriam a partir daquele momento reforçar o acervo da biblioteca, migrei de uma inicial reação de contentamento à preocupação com a frustrante sensação de que a presença física de uma biblioteca recheada de obras importantes e necessárias não seria a garantia de formação de novos leitores. Propus à gestão da escola a possibilidade de, mesmo durante a carga-horária de História, eu pudesse dedicar uma parte do tempo pedagógico ao incentivo da leitura, coisa que, diga-se, também é indispensável para o próprio aprendizado do conhecimento histórico.
Aos meus colegas professores e demais interessados nestes assuntos que trato aqui, digo apenas que meu desejo de fazer um resumo das atividades do Projeto Leitura ao longo desses dez anos precisa ser suplantado pelo bom senso de entender que seria impossível sem me alongar em demasia, e seria preciso outro blog para isso (já está sendo planejado). Digo apenas que durante esse trajeto introduzi um elemento que sem dúvida ajudou a aproximar esse incentivo à leitura ao Projeto História e Cinema. Entre outras ferramentas pedagógicas inauguramos a partir de 2010 as sessões de Cinema e Leitura, em que discutimos a hábito de ler e o maravilhoso universo dos livros através de filmes como O pequeno príncipe, O contador de Histórias, Os maravilhosos livros voadores do Sr. Morris Lessmore, entre outros.  A história, o cinema e a literatura começavam então a se aproximar.




A partir de 2017, foi introduzida na grade curricular das escolas de Brejo Santo a disciplina de Formação Cidadã. Sendo assim, naturalmente, criou-se uma demanda específica para temas que gravitam em torno de discussões relacionadas à própria história da cidadania e do conceito e características dos Direitos Humanos, passando por questões como ética, moral, justiça e consciência social.
A própria biblioteca escolar foi recentemente abastecida de obras que tratam desses temas, o que deu um impulso adicional para finalmente, pensarmos em desenvolver um trabalho que possibilitasse uma ponte entre os temas da disciplina de Formação cidadã, o Projeto Leitura e as nossas sessões do CineHistória.  Nasceu, então o recorte para o ano de 2017: Cinema, História e Direitos Humanos.



A partir de textos selecionados sobre o referido tema, delimitamos como eixo problematizante o questionamento: qual a relação entre o exercício da cidadania e a conquista dos direitos humanos? E a partir do estudo dessa relação, pautada evidentemente na percepção da necessidade do engajamento político como elemento necessário para a construção de uma sociedade mais justa, mais ética, menos desigual, culminamos com uma discussão sobre os direitos humanos da população afrodescendente no Brasil durante o mês de novembro, dedicado especialmente aos temas relacionados à consciência negra.



Por uma questão de otimização do tempo, optamos pela exibição de curtas-metragens, como os filmes Extremos, a Fábula da Corrupção e História dos Direitos Humanos. E como eixo que norteou todas as discussões ao longo do ano, optamos pelo livro ABC da cidadania, de João Baptista Herkenhoff, que tem uma linguagem muito acessível e continha todos os subtemas que seriam discutimos a partir da exibição dos filmes, como os conceitos de cidadania, a história da evolução dos Direitos Humanos, as desigualdades no tocante a aplicação dos Direitos Humanos nos países periféricos do mundo capitalista, entre outros.







Ao longo deste ano fomos discutindo a cada mês um capítulo do livro ABC da cidadania, momento em que cada aluno recebia um resumo do texto do capítulo estudado. A partir também da exibição de um curta-metragem relacionado a discussão, tentávamos enriquecer nosso entendimento sobre problemas como desigualdade social, exploração no mundo do trabalho e alienação político-eleitoral. Sempre ressaltando o impacto que as imagens dos filmes, seu recorte, sua edição, sua linguagem, tinha na elaboração de um entendimento sobre o tema, assim como o diálogo com o texto proposto.
Especificamente nas turmas do 9º Ano fizemos uma ponte temática com o capítulo sobre Ditadura Militar no Brasil, onde discutimos a ausência de Direitos Humanos num regime de exceção, em que as liberdades individuais e os interesses da maioria são suplantados por um setor da sociedade de outorga a si a posição de supremo governo, suprimindo assim a vontade geral.
Para fomentar nosso debate sobre esse assunto, exibi o filme O que é isso, companheiro, do diretor Bruno Barreto, o que nos permitiu refletir sobre a prática de torturas, a ausência de liberdade de expressão e a luta pela reconquista dos direitos do cidadão a partir da defesa de uma redemocratização.








Além do filme O que é isso, companheiro, foram exibidas também uma série de depoimentos de pessoas que foram presas e torturadas durante os anos de chumbo. Nesses depoimentos, selecionados no intuito de discutirmos uma série de questões que envolvem a ausência de Direitos Humanos, notei que essas falas individuais deram um caráter mais real e inteligível ao que estamos discutindo, escapando um pouco de dados quantitativos e abstrações teóricas.
Um aspecto que mencionei, mas quero ressaltar é que durante o mês de novembro, em que dedicamos especial atenção aos temas relacionados a Consciência Negra, utilizamos como recorte as reflexões sobre os Direitos Humanos e a conquista da cidadania. Sendo assim, nosso foco foi refletir sobre os direitos sociais das populações afrodescendentes. Exibi alguns vídeos sobre diversidade étnica e direitos civis e o curta metragem O preconceito cega, dirigido por Patrick Thouin, proporcionando assim momentos de proveitosas discussões.



Antes de finalizar o texto, gostaria também de mencionar que todos os anos a Escola Afonso Tavares de Luna lança em dezembro o periódico A Leitura, cuja finalidade é fazer a divulgação das atividades desenvolvidas em nosso projeto de incentivo ao ato de ler. Sendo assim, neste ano, fizemos algumas reportagens sobre a união do Projeto Leitura ao tema dos Direitos Humanos e Cidadania, incluindo as sessões de cinema por nós realizadas. Foi publicada também nesta edição do jornal uma seleção de textos  produzidos pelos alunos com base na pergunta norteadora já mencionada: qual a relação entre o exercício da cidadania e a conquista dos Direitos Humanos?



Colegas, obrigado pela leitura. Espero que este trabalho sirva para inspirar alguma ideia, algo que certamente aprofunde e melhore o que tentei realizar em 2017. O texto que acima redigi é apenas um resumo das atividades que realizamos, pois não caberia aqui entrar em maiores detalhes. Qualquer dúvida, entrem em contato.
Faço um agradecimento especial a todos os alunos da Escola Afonso Tavares de Luna pela participação nas atividades do projeto e a gestão da escola pelo apoio. 




Espero que 2018 nos reserve grandes experiências em sala de aula, onde certamente teremos muito o que aprender, e quem sabe, contribuir um pouco para o aprendizado dos nossos alunos. Até a próxima! 
Professor Josemar.