sábado, 21 de julho de 2012

Violência e Desigualdade Social

campanha violência PARA IMPRIMIR

Bem, para quem está acompanhando a evolução do nosso tema esse ano no CEJA Joaquim Gomes Basílio, esta postagem marca o encerramento das atividades do primeiro eixo de discussão: violência e desigualdade social. Os filmes exibidos foram Cidade de Deus e Ônibus 174. Com base nos textos distribuídos entre os professores, os vídeos e o próprio material didático utilizado em sala de aula, procuramos afastar a relação direta que se faz muitas vezes entre violência e pobreza. A questão é: o indivíduo não é violento porque é pobre. No entanto, em que sentido, a extrema desigualdade social é um estímulo à violência? Alba Zaluar diz que “se assim o fosse todos os pobres seriam necessariamente criminosos e todos os criminosos seriam pobres”. O sociólogo mineiro Edmundo Campos Coelho desenvolveu uma pesquisa nesse sentido e mostrou que quando se aumenta o desemprego, por exemplo, o problema da violência não se agrava. Mas a ambiência de injustiça e a plena certeza de impunidade contribuem para o aumento dos atos criminosos. Como? Esse foi um ponto chave de nossas discussões.

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No que se refere a problemática do senso de impunidade, da atmosfera de um estado que não pune exemplarmente o ato delituoso, ou que manifesta certa ambivalência em relação ao comportamento criminoso, deixaremos para discutir mais na próxima postagem, já que será nosso foco no eixo violência e sistema prisional; mas é importante ressaltar que a desigualdade social também é pensada por esse prisma, posto que estatisticamente os crimes cometidos por pessoas classificadas como pertencentes a camadas inferiores na escala material são punidos com mais freqüência; o que, na visão de alguns estudiosos do assunto, contribui para aumentar o desrespeito pela ordem constituída.

Hobbes, tratando da questão contratualista, afirma que entre o Estado e a sociedade existe um acordo implícito, em que as pessoas cumprem a lei na esperança de que os seus direitos sejam garantidos pelo governo, ou seja, a lei, quando é cumprida, não o é pelo simples fato de existir, mas porque no estágio moderno da organização social humana, a coletividade usufrui a contraparte do sacrifício oferecido contra sua individualidade. Então chegamos a questão imperativa para nós nesse momento: nesses grupos sociais em que é gestado um corpus juris paralelo, um estado dentro do Estado, há esperança na troca simbiótica pensada por Hobbes? Acho, sinceramente, que essa pergunta precisa ser respondida antes do aparelho repressor começar a “funcionar”.

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Bem, faço agora um apanhado das atividades do eixo violência e desigualdade social, que compõe junto com quatro outros sub-temas o programa de 2012-2013, que tem como matriz geral o tema Mídia, Sociedade e Violência Urbana. No entanto, antes de entramos propriamente no assunto da postagem, quero fazer menção a algo de substancial importância: a troca de alguns professores que estão trabalhando as atividades ligadas ao projeto junto aos alunos.

Devido ao processo de seleção de professores ter avançado em alguns meses do período letivo, a substituição das professoras que estavam iniciando as atividades conosco causou algum atraso em nosso cronograma, posto que tive que fazer a apresentação do projeto para os novos docentes e uma outra turma de alunos que não estudavam antes na sede do CEJA e agora estão conosco participando do projeto.

DSC01617Fiquei muito contente com a receptividade dos novos professores as idéias e senti que houve um interesse imediato pelo tema. Reuni-me por área com os novos professores, pois cada disciplina tem uma participação específica. Comecei com os novos professores do Laboratório de Informática, Adriano de Jesus Lima e José Paulo dos Santos, que tem a importante missão de coordenar o processo de digitação das opiniões dos alunos, onde os mesmos aproveitaram para introduzir os leigos no universo da informática, já que em nosso grupo de alunos, grande parte não tem acesso a computadores. E claro, agradeço mais uma vez a ajuda do amigo da escola José Marcelino da Rocha (Zé Santana) pela presença em nossas atividades, dando sugestões e puxando os debates aqui no blog.

DSC01587 Os professores Anderson Luiz Vale Fonseca e Maria Gorete Fonseca ficaram responsáveis por dar o suporte na disciplina de Português e ajudarem os alunos a produzir os textos sobre cada eixo de discussão. Os textos serão elaborados seguindo os gêneros textuais que estiverem sendo trabalhados por eles dentro das aulas de Português. Ficando a cargo da professora Socorro Inácio, como já foi mencionado na postagem anterior, a missão de coordenar as atividades dessa área, inclusive da escolha dos textos que serão premiados ao final de cada eixo.

DSC01589Bem, para trabalhar as discussões da área de ciências humanas, História, Geografia, Filosofia e Sociologia, foram convidados os professores Thiago Henrille Gomes Maia e Elita Maria Alves de Macêdo Cavalcante, que atuarão mais efetivamente durante as atividades do tema desse ano, já que eles vão puxar os debates durante as suas aulas e acompanharão os alunos nas exibições dos filmes.

DSC01592 Acho que agora podemos voltar para o relatório de nossas atividades nesse primeiro eixo de discussão. Após o trabalho em sala de exposição do tema e debates, exibimos o primeiro filme de nosso programa para esse ano: Cidade de Deus. Por coincidência, o filme foi exibido praticamente na mesma data da comemoração dos seus 10 anos. Entre os dias 15 e 22 de maio, as turmas da EJA fundamental e da EJA médio assistiram a exibição do filme em nossa sala de cinema, que carinhosamente chamamos de CineHistória.

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Mas é claro, antes da exibição, os professores envolvidos no projeto discutiram o assunto com os alunos, direcionando as atividades para um maior aproveitamento. Após a exibição, começaram os debates. É bom frisar que a partir da exibição do filme, a discussão ganha um outro corpo, pois passamos a analisar aquilo que o filme expôs, mas fundamentando naquilo que foi proposto como eixo de discussão. Sendo assim, além de estarmos explorando a relação entre desigualdade social e violência, utilizamos a obra de arte, nesse caso o cinema, para estimular nossos alunos a ter uma atitude crítica diante do recurso audiovisual.

DSC01660Para finalizarmos o trabalho do primeiro sub-tema, exibimos o filme de José Padilha, o documentário Ônibus 174. Escolhemos esse filme para encerrarmos a discussão porque explorando um evento mais específico, ele acaba dando vazão a toda gama de assuntos que discutimos durante o trimestre, principalmente a ideia do condicionamento violento vinculado a condição material da pessoa. Mas, o espetáculo midiático em que se transforma o evento nos permitiu perceber como os atos de violência, a partir dos dramas individuais e coletivos, são usados pelos meios de comunicação para manipular a opinião pública.

Passadas essas etapas, encaminhamos o trabalho para a disciplina de Português, que ficou responsável pela produção dos textos com os alunos. Pedimos para que os professores Anderson e Gorete orientassem seus alunos a produzirem um texto sobre o eixo Violência e Desigualdade Social, e uma opinião sobre um dos dois filmes que foram expostos: Cidade de Deus e Ônibus 174. Na volta das aulas em agosto, exporemos os melhores textos e premiaremos os destaques. Farei aqui uma postagem com o resultado dessa culminância. Até lá, então!

Mas, antes de finalizar não posso deixar de relatar aqui outra importante atividade de nosso projeto: a parceria com a escola de Ensino Fundamental João Teles de Carvalho. Através da professora Socorro Inácio (coordenadora da área de Português do Projeto História e Cinema no CEJA) seus alunos estão fazendo também as discussões que estamos propondo. Instigados pela professora Socorro Inácio, eles estão seguindo as mesmas etapas que propomos para os alunos da Educação de Jovens e Adultos com pequenas adaptações para a sua idade e série. Ao final das discussões, eles são convidados a se dirigirem as dependências do CEJA para assistirem as exibições em nosso CineHistória.

DSC01995A professora Socorro Inácio irá auxiliá-los na produção textual e posterior publicação em nosso blog. Agradeço a presença de todos em junho para a exibição de Ônibus 174. E aguardo dos textos de vocês!

DSC02007Pessoal, obrigado pela leitura. No próximo eixo discutiremos a relação entre a violência e o aparelho repressor. Até a próxima!