Bem, para quem está acompanhando a evolução do nosso tema esse ano no CEJA Joaquim Gomes Basílio, esta postagem marca o encerramento das atividades do primeiro eixo de discussão: violência e desigualdade social. Os filmes exibidos foram Cidade de Deus e Ônibus 174. Com base nos textos distribuídos entre os professores, os vídeos e o próprio material didático utilizado em sala de aula, procuramos afastar a relação direta que se faz muitas vezes entre violência e pobreza. A questão é: o indivíduo não é violento porque é pobre. No entanto, em que sentido, a extrema desigualdade social é um estímulo à violência? Alba Zaluar diz que “se assim o fosse todos os pobres seriam necessariamente criminosos e todos os criminosos seriam pobres”. O sociólogo mineiro Edmundo Campos Coelho desenvolveu uma pesquisa nesse sentido e mostrou que quando se aumenta o desemprego, por exemplo, o problema da violência não se agrava. Mas a ambiência de injustiça e a plena certeza de impunidade contribuem para o aumento dos atos criminosos. Como? Esse foi um ponto chave de nossas discussões.
No que se refere a problemática do senso de impunidade, da atmosfera de um estado que não pune exemplarmente o ato delituoso, ou que manifesta certa ambivalência em relação ao comportamento criminoso, deixaremos para discutir mais na próxima postagem, já que será nosso foco no eixo violência e sistema prisional; mas é importante ressaltar que a desigualdade social também é pensada por esse prisma, posto que estatisticamente os crimes cometidos por pessoas classificadas como pertencentes a camadas inferiores na escala material são punidos com mais freqüência; o que, na visão de alguns estudiosos do assunto, contribui para aumentar o desrespeito pela ordem constituída.
Hobbes, tratando da questão contratualista, afirma que entre o Estado e a sociedade existe um acordo implícito, em que as pessoas cumprem a lei na esperança de que os seus direitos sejam garantidos pelo governo, ou seja, a lei, quando é cumprida, não o é pelo simples fato de existir, mas porque no estágio moderno da organização social humana, a coletividade usufrui a contraparte do sacrifício oferecido contra sua individualidade. Então chegamos a questão imperativa para nós nesse momento: nesses grupos sociais em que é gestado um corpus juris paralelo, um estado dentro do Estado, há esperança na troca simbiótica pensada por Hobbes? Acho, sinceramente, que essa pergunta precisa ser respondida antes do aparelho repressor começar a “funcionar”.
Bem, faço agora um apanhado das atividades do eixo violência e desigualdade social, que compõe junto com quatro outros sub-temas o programa de 2012-2013, que tem como matriz geral o tema Mídia, Sociedade e Violência Urbana. No entanto, antes de entramos propriamente no assunto da postagem, quero fazer menção a algo de substancial importância: a troca de alguns professores que estão trabalhando as atividades ligadas ao projeto junto aos alunos.
Devido ao processo de seleção de professores ter avançado em alguns meses do período letivo, a substituição das professoras que estavam iniciando as atividades conosco causou algum atraso em nosso cronograma, posto que tive que fazer a apresentação do projeto para os novos docentes e uma outra turma de alunos que não estudavam antes na sede do CEJA e agora estão conosco participando do projeto.
Fiquei muito contente com a receptividade dos novos professores as idéias e senti que houve um interesse imediato pelo tema. Reuni-me por área com os novos professores, pois cada disciplina tem uma participação específica. Comecei com os novos professores do Laboratório de Informática, Adriano de Jesus Lima e José Paulo dos Santos, que tem a importante missão de coordenar o processo de digitação das opiniões dos alunos, onde os mesmos aproveitaram para introduzir os leigos no universo da informática, já que em nosso grupo de alunos, grande parte não tem acesso a computadores. E claro, agradeço mais uma vez a ajuda do amigo da escola José Marcelino da Rocha (Zé Santana) pela presença em nossas atividades, dando sugestões e puxando os debates aqui no blog.
Os professores Anderson Luiz Vale Fonseca e Maria Gorete Fonseca ficaram responsáveis por dar o suporte na disciplina de Português e ajudarem os alunos a produzir os textos sobre cada eixo de discussão. Os textos serão elaborados seguindo os gêneros textuais que estiverem sendo trabalhados por eles dentro das aulas de Português. Ficando a cargo da professora Socorro Inácio, como já foi mencionado na postagem anterior, a missão de coordenar as atividades dessa área, inclusive da escolha dos textos que serão premiados ao final de cada eixo.
Bem, para trabalhar as discussões da área de ciências humanas, História, Geografia, Filosofia e Sociologia, foram convidados os professores Thiago Henrille Gomes Maia e Elita Maria Alves de Macêdo Cavalcante, que atuarão mais efetivamente durante as atividades do tema desse ano, já que eles vão puxar os debates durante as suas aulas e acompanharão os alunos nas exibições dos filmes.
Acho que agora podemos voltar para o relatório de nossas atividades nesse primeiro eixo de discussão. Após o trabalho em sala de exposição do tema e debates, exibimos o primeiro filme de nosso programa para esse ano: Cidade de Deus. Por coincidência, o filme foi exibido praticamente na mesma data da comemoração dos seus 10 anos. Entre os dias 15 e 22 de maio, as turmas da EJA fundamental e da EJA médio assistiram a exibição do filme em nossa sala de cinema, que carinhosamente chamamos de CineHistória.
Mas é claro, antes da exibição, os professores envolvidos no projeto discutiram o assunto com os alunos, direcionando as atividades para um maior aproveitamento. Após a exibição, começaram os debates. É bom frisar que a partir da exibição do filme, a discussão ganha um outro corpo, pois passamos a analisar aquilo que o filme expôs, mas fundamentando naquilo que foi proposto como eixo de discussão. Sendo assim, além de estarmos explorando a relação entre desigualdade social e violência, utilizamos a obra de arte, nesse caso o cinema, para estimular nossos alunos a ter uma atitude crítica diante do recurso audiovisual.
Para finalizarmos o trabalho do primeiro sub-tema, exibimos o filme de José Padilha, o documentário Ônibus 174. Escolhemos esse filme para encerrarmos a discussão porque explorando um evento mais específico, ele acaba dando vazão a toda gama de assuntos que discutimos durante o trimestre, principalmente a ideia do condicionamento violento vinculado a condição material da pessoa. Mas, o espetáculo midiático em que se transforma o evento nos permitiu perceber como os atos de violência, a partir dos dramas individuais e coletivos, são usados pelos meios de comunicação para manipular a opinião pública.
Passadas essas etapas, encaminhamos o trabalho para a disciplina de Português, que ficou responsável pela produção dos textos com os alunos. Pedimos para que os professores Anderson e Gorete orientassem seus alunos a produzirem um texto sobre o eixo Violência e Desigualdade Social, e uma opinião sobre um dos dois filmes que foram expostos: Cidade de Deus e Ônibus 174. Na volta das aulas em agosto, exporemos os melhores textos e premiaremos os destaques. Farei aqui uma postagem com o resultado dessa culminância. Até lá, então!
Mas, antes de finalizar não posso deixar de relatar aqui outra importante atividade de nosso projeto: a parceria com a escola de Ensino Fundamental João Teles de Carvalho. Através da professora Socorro Inácio (coordenadora da área de Português do Projeto História e Cinema no CEJA) seus alunos estão fazendo também as discussões que estamos propondo. Instigados pela professora Socorro Inácio, eles estão seguindo as mesmas etapas que propomos para os alunos da Educação de Jovens e Adultos com pequenas adaptações para a sua idade e série. Ao final das discussões, eles são convidados a se dirigirem as dependências do CEJA para assistirem as exibições em nosso CineHistória.
A professora Socorro Inácio irá auxiliá-los na produção textual e posterior publicação em nosso blog. Agradeço a presença de todos em junho para a exibição de Ônibus 174. E aguardo dos textos de vocês!
Pessoal, obrigado pela leitura. No próximo eixo discutiremos a relação entre a violência e o aparelho repressor. Até a próxima!
É difícil dizer com palavras a dimensão da importância desse sub-tema violência e desigualdade social ser abordado em sala de aulas e ser tão ricamente discutido e ilustrado através do cinema. Parabéns pela iniciativa e bom trabalho nas próximas atividades! Acho que a frase de Alba Zaluar responde bem a questão," em que sentido, a extrema desigualdade social é um estímulo à violência?" dizendo que “se assim o fosse todos os pobres seriam necessariamente criminosos e todos os criminosos seriam pobres”. Acho que há muitas outras questões envolvidas, como a própria valorização do ser humano e o respeito mútuo entre as pessoas. Professora Sandra.
ResponderExcluirJosemar de Medeiros Cruz - Você sempre nos trouxe a fonte de uma nascente desconhecida, a realidade brasileira, embora o nosso país era pra ser uma grande nação de homens trabalhadores e honestos,a fonte foi suja pela barrenta VIOLÊNCIA,e a negra camada DROGAS a MISÉRIA,pela falta de EDUCAÇÃO e OCUPAÇÂO e DIGNO SALÁRIO. E não é a pobreza que gera a violência e o crime,mas a falta de oportunidade,e fator negativo dos presídios sem ocupação e salário,formam escolas do crime onde avançam o controle pelos presos, que mandam e demandam.
ResponderExcluirNosso país era para valer o social,ajudar quem precisa e da oportunidade a quem merece e deseja progresso e vida,mas vemos vias que desviam rotas e ferem o código da justiça e da desigualdade social, onde o bandido tem mais valor que o cidadão, e aquele que paga imposto,sustenta presídio, comércio e a nação,é agredido,violentado e as vezes, a justiça faz corpo mole e facilita a corrupção e a sagrenta violência,e a cidadania perdeu a brancura da paz, por isso bem colocadosua frase que me chamou a atenção: " ENQUANTO A PAZ ESTIVER PRESA, A VIOLÊNCIA VAI ESTAR SOLTA." Paz é o acesso ao bem e violência é o acesso as terrores e desajuste de uma sociedade em desequilíbrio e desarmonia,somente mudaremos esse quadro quando a política educacional estiver a frente dos planos do governo e a sociedade trabalhadora fizeram parte integrante dessa democracia que por razão ante-constitucional, somente os barões e os escalões do governo é quem arbitra,
Valeu toda ajurisprudência que foi impressa nas suas salutares idéias,aliás os estudantes que forem fazer DIREITO dêem uma "espiadinha" no cine história e conheçam o Brasil que não se viu ainda no interior,mas corre o risco de ainda andar por aqui,a triste violência, gerandora do desconforto social.
The poet and Writer and Conferencista...
Acompanhador do Blog Cine História,e participante
do CINE HISTÓRIA DO CEJA ( Cooperador do Sistema)
In Ce, Brejo Santo, Brazil,
ZS < 10 > 2012 LLS... Poeta Zé Santana...
Essa é uma questão importante, professora Sandra. A valorização do ser humano é um dos pressupostos básicos da educação, que a escola precisa instigar. Acho que muitos problemas sociais existem pela ausência dessa preocupação.
ResponderExcluirProfessor Josemar
Zé, obrigado pelo comentário. Você continua a contribuir muito com o projeto. Acho também que a violência é resultante de uma problemática social mais profunda que precisa ser discutida, e muitas vezes descoberta.
ResponderExcluirProfessor Josemar.
Violência e desigualdade social é sem dúvida um tema de suma importância e que deveria ser mais discutido. É um assunto polêmico e divide opiniões. As opiniões divergem, uns acreditam que a violência gera desigualdade social, outros são contrários. Se a pessoa é pobre ela não vai ser, necessariamente, violenta. Será que alguém que se encaixa no perfil da classe média ou alta não pode ser violento?
ResponderExcluirValdir.
Olá caros amigos, antes de mais nada peço desculpas pelo período que passei sem aparecer por aqui, os motivos não adianta falar, mas foi um período em que tive que travar um luta interior. Vamos ao que interessa...
ResponderExcluirCertamente que sim Valdir. Falar sobre a violência, não se resume a falar sobre pessoas pobres, não é uma questão meramente econômica, e sim muito mais social. Encontramos a violência presente em tantos cenários que, muitos vezes, nem percebemos seu acontecimento, um grande filósofo menciona isso em uma de suas músicas, e chama esse tipo de violência de "violência travestida". Pelo menos é o que me parece ao ouvi-lo, mas nosso amigo Josemar pode falar melhor sobre isso.
Thiago Salviano Nascimento