Na manhã de 11 de setembro de 2001, mergulhamos vertiginosamente em uma catarse coletiva inédita na história. Devido ao aparato midiático inexistente em outros tempos, pudemos pela primeira vez em toda a trajetória humana, acompanharmos um marco histórico em tempo real. Quase não fez diferença onde estivéssemos naquele instante, pois o mundo dividia-se apenas entre participantes e público daquela tragédia.
A espetacularização do fato, tão comum em tempos de imediatismo frenético (em que tudo é pop, até mesmo, ou principalmente, a desgraça alheia) depois desse dia ganhou outra conotação. O sentimento de perplexidade que nos assolava, aquela sensação estranha de tudo parecer alguma imagem cinematográfica, aos poucos foi nos conduzindo a um estado de letargia asfixiante, em que muitos, infelizmente, encontram-se até hoje. O que aconteceu exatamente ali, além das imagens transmitidas a nós? O que vimos tão brutalmente expostos pelas insaciáveis câmeras de TV nos basta?
Parecia tudo muito simples de se entender: árabes, muçulmanos e terroristas, membros de uma seita radical anti-americana, orquestrou uma espetacular operação de ataque com aviões aos dois maiores símbolos do poder no ocidente cristão-capitalista: as torres gêmeas do World Trade Center (símbolo do poder econômico) e o pentágono (centro de comando das formas armadas dos EUA). Sim, havia mais uma aeronave que se deslocava para destruir supostamente a casa de campo da presidência, ou quem sabe a Casa Branca (sede do poder executivo). Enredo pronto, roteiro finalizado sem muita complicação, as redes de TV em todo o mundo “explicavam” tudo o que se via nas imagens. Para temperar o maniqueísmo novelesco ao qual estão acostumados os telespectadores, imagens de algumas pessoas comemorando o trágico evento nos países de maioria muçulmana (em especial na palestina). Bem, assim, poderíamos saber por quem chorar e a quem odiar. Tudo como num blockbuster hollywoodiano.
Mas o interessante é que a História não é feita assim como num script falacioso. Há sempre algo por trás dos fatos que a nossa vã ingenuidade não pode supor. Mas será que é por que não é mais fácil para nós também, telespectadores que somos, aceitarmos a imposição de uma verdade mais palatável e cômoda? Afinal, assim podemos nos sentir mais inseridos, interagindo com os fatos como se diz hoje.
Bom, estabelecidos os culpados, o governo americano começou a retaliação. Desculpe, guerra preventiva. Entre a tomada do Iraque e deposição de Saddam Hussein até a morte de Bin Laden, muitos outros sofreram as conseqüências daquela virada na história, e muita gente ganhou também. Empresas de segurança, empreiteiras, é a reestruturação/democratização do Oriente Médio. Parece que o mundo não vê mais o antes do 11 de setembro, tudo parece só o que veio depois.
Mas os espetaculares meios de comunicação que permitira a divulgação imediata daquelas imagens aterradoras também facilitaram o ininterrupto delinear de teorias “conspiratórias” que fornecem uma explicação bem diferente daquela oficial que a grande mídia reproduz sem nenhum senso crítico. Algumas versões chegam realmente a distorcer completamente o relato tradicional, colocando o próprio governo americano como algoz do seu povo. Outros se limitam a levantar suspeitas de que os EUA sabiam da iminência dos ataques, mas não o evitaram para que pudessem imprimir a sua guerra contra o terror.
Cada uma dessas teorias, assim como a versão oficial tem sua própria genealogia de textos, imagens, documentos, ou seja, provas do que estão dizendo. Uma simples manipulação de imagens pode levar pessoas que têm pouca formação áudio-visual a introjetar a ideologia que se queira. É preciso que todos nós tenhamos cuidado com essa manipulação.
Uma dessas teorias a que me refiro é apresentada no filme Loose Change, e é ele que escolhemos para instigarmos um debate sobre os eventos a que intitulamos 11 de Setembro. Loose Change foi concebido inicialmente para ser um filme de ficção baseado nos ataques e se tornou depois um documentário. Em Maio de 2002, Dylan Avery começou a pesquisa para o seu filme e com base na sua investigação, concluiu que o ataque terrorista não foi orquestrado e consumado por membros da Al Qaeda, (ataque este que justificou a invasão ao Afeganistão e logo em seguida ao Iraque), mas sim por membros do governo dos Estados Unidos da América.
A exibição desse filme marca também os dois anos do Projeto História & Cinema. Iniciamos nossas atividades justamente num 11 de setembro, em 2009. Faremos também uma pequena retrospectiva de nossas atividades antes da exibição. Mas de antemão, agradeço a todos os que contribuem conosco, em especial ao núcleo gestor do CEJA Joaquim Gomes Basílio e aos alunos colaboradores José Marcelino da Rocha e Tony Antônio dos Santos.
Bem, o mundo não é mais o mesmo depois do 11 de Setembro (nem é preciso escrever o ano, a data já se encarrega de nos fazer recordar as imagens, o 11 já nos força a lembrar as duas torres). Mas qual foi o mundo que deixou de existir e que advém daquele evento? As guerras, as revoluções no mundo árabe, as fusões coorporativas, o controle das informações, as teorias conspiratórias, a exacerbação da xenofobia e dos conflitos entre o ocidente e o oriente. Todos esses são aspectos mais ou menos relacionados aos acontecimentos daquela fatídica manhã, que a arte, em especial o cinema, configura e reconstrói também sob um farto aparato ideológico. O mundo que nasce dali talvez seja o do hiperrealismo, da desilusão, da desesperança, do medo, da insegurança, do receio da instauração do caos. De uma terceira guerra mundial?
Interessante essa última pergunta, pois foi juntamente como acabei sabendo sobre o ataque as gêmeas do World Trade Center. Estava lecionando, e ao final da sexta aula, por volta das treze horas, dirigia-me para casa quando encontrei um grupo de amigos que debatiam sobre os eventos, um deles disse: e aí, cara, vai começar a terceira guerra mundial! Obviamente achei que era uma brincadeira, pois não sabia o que estava acontecendo. Eles tentaram me explicar e continuei andando (estava com muita fome para piadas). – Atacaram os Estados Unidos! – Um deles ainda gritou. Mais à frente encontrei uma TV ligada em um bar, com uma pequena platéia diante dela. - Meu Deus, era verdade! Senti que o mundo como o conhecia até a noite anterior estava com os dias contados, algo iria mudar profundamente.
E a terceira guerra mundial? Talvez mesmo, o grande ponto de alteridade seja a necessidade de revermos alguns conceitos como, por exemplo, do que seja a terceira guerra mundial.
Pessoal, como curiosidade, postei aqui um vídeo mostrando a reportagem do Jornal Nacional no dia dos atentados, e claro, um trecho do filme Loose Change. Espero a participação de vocês. Comentem!